segunda-feira, 19 de março de 2012

É por isso que amo zumbis!

Eu vou ficar louca e nem sei para quem escrevo. E não é a cidade, mas essa sensação de solidão, que sou só eu e a Mel e a Brisa e que se houver mais alguém é quem eu não quero, ele. Tá bom que a cidade ajuda, mas será que eu apenas não me lembro disso em Campinas? E além de tudo, um pânico de me atirar por aí e conhecer pessoas novas. Eu fico em casa durante sábados e domingos só trabalhando, corrigindo redações e escrevendo projetos. E, tudo bem, que isso também é vida, mas não dá pra ser só isso. Eu não tenho mais nenhuma coragem de ligar o som no máximo e cantar e isso tem a ver com a crise de identidade em que entrei ao pegar meu carro, meu cachorro e calcinhas e vir pra cá de novo. E o fato de não ter nenhuma melhor amiga baladeira, com quem eu me identifico tanto, que sei que a hora que for vai no bar e vamos dançar e tudo mais. Eu sinto falta da Renata e da Ana, que me enlouqueciam às vezes, mas, em parte das vezes, me tiravam da loucura, desse monte de paranoia e me lavavam a alma, me levavam pra um canto me faziam chacoalhar e deixar música me envolver e tudo ficava bem. Finalmente encontrei aquela música que ouvi aquele dia, na frente da banca central. Ela está tocando e é Yes sim. Não, não é supertramp, fool's overture. É essa outra obra de arte e estou esperando pra ouvir o nome e escrever aqui. I hear you now. E como eu sinto falta dessa coisa que fala a música, de se apaixonar e não carinho, mas aquela desgraça, que é só graça, estado de graça. Ficar bobo e tudo na vida voltar a fazer sentido, que é para isso que inventamos isso chamado de amor: pra não doer tanto que deus não tem um plano para você, que você vai mudar o mundo, mas é bem pouquinho, quase nada, que a fome da África tá aí e você não sabe o que fazer, que o Sílvio Santos é um holograma e imortalmente vai esculhambar seu povo que vai lá e você não pode matar o holograma, enfim, é toda essa merda de não reciclarem e não enterrarem lixo no quintal e tudo que você pode fazer sobre isso é pensar e escrever. E vai ter o show do Roger Waters e estou feliz porque vou pra Sampa ver meus pais! Meus pais e avós! Isso pode? Quem me conhece sabe que não, não pode, é um retrocesso, volta pro útero, assustada, em pânico e sem conseguir dar um jeito nessa vida. Aí eu fico lá, embrionando, gestando um luto, sei lá de quê. Eu carrego uma série de lutos que, ao invés de passar, se juntam, se formam um quase corpo, que não tem joelhos. Andam assim, pernas dobradas, se arrastam por dentro de mim, me culpam, me corroem e eu nunca, nunca, vou me sentir boa o suficiente se continuar carregando esse zumbi nos ombros. Hoje eu vi como sou uma otária e tou tentando entender porque quero facilitar tanto a vida dos outros, se quase ninguém facilita a minha, com exceção de umas pérolas que andam por aí. Acho que cresci sendo tão “facilitada” e ouvindo tanto que todo mundo tem o direito, o mesmo direito, ou ao menos deveria ter, que vou concedendo, cedendo, dando logo, as pernas bem abertas e tomando no meu rabo. E sem gostar. Ainda me sinto culpada por ser quem eu sou, me sinto privilegiada demais de um lado, tanta culpa, então não mereço, não mereço. E assim vai: eu sinto que tudo me foi dado de bandeja então eu tenho mais é que engolir bem quieta, sem reclamar. Ao que parece, eu nunca fiz nada mesmo. E aí tem o outro lado: que injustiça, eu sempre fiz tanta coisa, e ninguém reconhece, nunca reconhece, pensam que eu não me esforço, e eu batalho e ainda me castigam, se afastam, casam com a médica e com a advogada e eu sou tão coitadinha. Tadinha! Atendo ao apelo da insônia: ela me diz que tá mais do que na hora de escrever esse blog inteiro, essa adicção, esse maço por dia, só hoje, eu vou me dar esse bom momento. E quando eu vejo o ponteiro do mouse brilhando, ansioso por mais uma frase, eu sei que estou em casa, mas que é difícil abrir a porta e pedir para entrar. Estou tropeçando nos degraus. Eu estou tropeçando nos degraus.

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